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Neste post falei da Soraia assim de passagem.
A Soraia é uma rapariga que conhecia da catequese. Sim, fiz a catequese até ao fim e cheguei a ajudar a dar catequese. Nunca foi uma rapariga pela qual me tivesse alguma vez sentido particularmente atraído. Sempre foi uma amiga... comum.
Em determinada altura, a Soraia teve de ser submetida a uma intervenção cirúrgica de algum risco mas em que tudo correu bem. O pessoal da catequese, no qual me incluo, assim como o nosso catequista, fomos visitá-la ao hospital depois dessa intervenção. Ela estava fraquinha, mas estava bem. Conversava e parecia bem disposta. E não sei exatamente o que aconteceu, mas alguma coisa despertou em mim um interesse por ela. Até hoje não sei o que terá sido. Como foi a primeira vez que estivemos juntos fora do ambiente da catequese pode ter ajudado, mas nem sequer estivemos sozinhos.
Senti o que senti, e refleti um pouco sobre aquilo. Achei que nunca ia dar a lado nenhum, porque poucas vezes estávamos juntos, porque ela nunca se interessaria por mim. Pouco tempo mais tarde, comentei com a minha amiga Luciana aquilo que tinha sentido, o que me tinha passado pela cabeça. A Luciana era das melhores amigas da Soraia, e andava comigo na escola e na catequese, e por isso estávamos mais tempo juntos. A Luciana foi uma boa ouvinte e é capaz de ter dado alguns conselhos, mas aquilo morreu por ali. ...pensei eu.
Toda esta parte da história, passou-se mais ou menos em janeiro e entretanto aquilo foi passando até que praticamente me esqueci do que tinha passado.
No início de março, recebo uma SMS no meu telemóvel que me deixa perplexo. E é incrível como há pormenores que ficam claramente gravados na nossa memória. Lembro-me que era uma quarta-feira, que estava um dia chuvoso, estávamos à espera do início de uma aula de Educação Física que não sabíamos se íamos ter, e eu olho para o meu Ericsson T10s roxo, e tinha uma mensagem que dizia mais ou menos o seguinte: "Desculpa, mas não consigo esconder mais isto. Estou apaixonada por ti."
Eu fiquei perplexo a olhar para aquilo, e acho que nem tinha a certeza de quem era o número, mas depois comecei a juntar as peças (talvez a mensagem viesse assinada), e fui falar com a Luciana. Ela confirmou que tinha sido a Soraia a enviar a mensagem. Que na altura da cirurgia, a Soraia tinha tido uma conversa com ela idêntica à que eu tive, e a Luciana contou à Soraia o que eu tinha dito, mas eu nunca soube de nada. A Soraia na altura não quis desenvolver mais nada, vá-se lá saber porque, e naquela altura resolveu mandar aquela mensagem.
Fomos conversando por SMS, aquilo que eu tinha sentido em janeiro reacendeu, e lá começámos o "namoro" por SMS.
Por diversas questões não tivemos oportunidade de estarmos juntos antes de eu partir para o Brasil. E no Brasil já todos sabem o que se passou por aquele post.
.... (pausa para reflexão)
Quando voltei não conseguia deixar de pensar na Maria e, entretanto, lembrei-me que tinha de falar com a Soraia. Não fazia sentido continuar aquilo, até porque tudo o que eu eventualmente tinha sentido por ela se tinha desvanecido na imensidão do que foram os sentimentos daquelas 3 semanas no Brasil.
A Soraia por sua vez não desistiu facilmente, insistiu que podíamos tentar na mesma. Como ela também tinha ido de férias para Vigo com amigos naquele período, confessou-me também que me tinha "traído" com alguém. Mas que não fazia mal, que podíamos tentar. Eu não tinha cabeça, não queria pensar naquilo.
Ela acabou por desistir e isso passou.
Como acaba esta história? Passado alguns meses, poucos, a Soraia começa a namorar com um rapaz chamado Tomás. E com cerca de seis meses de namoro vem-me perguntar se eu achava que ela devia perder a virgindade. (Sim, estas coisas aconteciam-me). Eu fiquei estupefacto e disse que ela é que tinha de saber se estava preparada. Perguntei igualmente porque ela não falava com a Luciana que era muito mais amiga dela e certamente teria uma palavra mais sábia, ao que ela me respondeu que sabia qual seria a resposta da Luciana (dir-lhe-ia para não fazer isso), e por isso me perguntou a mim, porque era a única outra pessoa com confiança para o fazer.
Ela não resistiu muito mais tempo e lá "perdeu os três" com o Tomás. Mais tarde ela vem-me contar sobre ocasiões em que não tinha usado proteção, e pelos vistos ela não tomava a pílula... Pelo que tomou uma Pílula do dia seguinte. Comentei com a Luciana estas situações, e ela mostrou-se conhecedora do que se passava. Disse-me inclusivamente que não era a primeira vez que isso acontecia.
Conclusão? Passado uns seis meses ela diz que tem algo para me contar: Surprise, surprise!! Estava grávida.
Casou com o Tomás ainda durante a gravidez e tiveram a criança, que deve ter uns 12 anos. Penso que ela ainda está casada com ele, mas o contacto entre nós foi-se desvancendo muito ao longo dos tempos e não sei o que é feito dela agora.
Aviso Prévio - Este post provavelmente vai ser bastante longo, mas eu acredito que vale a pena, especialmente para os interessados em seguir o blog.
Este foi um acontecimento que mudou a minha vida. Tão curto temporalmente, mas tão intenso. Foi um acontecimento daqueles que marca um "antes" e um "depois" na vida das pessoas.
Tinha 15 anos e tive a oportunidade de ir com um grupo (recreativo), ao Brasil, por um período de cerca de três semanas. Uma espécie de intercâmbio.
Tudo em mim queria aproveitar aquela experiência tanto quanto possível. Conhecer, viver, absorver tudo quanto pudesse. Era a minha primeira grande viagem para fora do país. Contava os dias para poder ir.
Na altura que fui de viagem, encontrava-me a... "namorar" com uma rapariga chamada Soraia. Uma história complicada que contarei noutro post, para encaixar nesta. Mas digamos que, de todas as relações a que chamei "namoro" aquela foi o que menos se assemelhou a isso. De qualquer maneira é relevante a informação.
Eu era dos mais novos do grupo. Apesar de ter bastante gente jovem, a maioria tinha idades entre os 16 e os 20 anos. Para os rapazes, estava a ser uma excitação pensar nas raparigas brasileiras, que tinham toda a fama que muita gente conhece de serem fáceis, ainda para mais com portugueses... É uma ideia que não se aplica a todas, mas posso dizer que há muitas que se encaixam nos dois estereótipos: tanto as que são efetivamente fáceis, como as que se deixam facilmente levar por um "portuga" tentando conseguir uma vida melhor na Europa do que no Brasil.
Contrariamente a tudo o que se podia esperar de mim, estava completamente alheado dessas situações. Não pensava minimamente nisso. Pela excitação da viagem em si, porque tinha tantas outras coisas para descobrir... e talvez porque, apesar de ser pinga-amor, sempre pensava nas relações a longo prazo, por mais curtas que algumas pudessem ter acontecido na minha vida. Eu era jovem e bastante imaturo, mas tinha algumas ideias bem formadas na minha cabeça.
Chegamos a uma quarta-feira e íamos ficar num grupo idêntico ao nosso que nos recebeu por lá. Algumas pessoas vieram receber-nos ao aeroporto. No caso, vieram umas três raparigas desse grupo brasileiro. O alvoroço entre os rapazes foi logo grande, mas eu praticamente nem me lembro de as ter conhecido.
Era uma loucura. Foi no fim de março, estava a começar o outono no Brasil. Estava quente, uns 30ºC... começou a chover. Fomos para o terraço da associação onde íamos ficar hospedados e tomámos banho de chuva. Isto só para dar uma ideia do clima de diversão que por ali havia.
Depois... Eu nem sei bem como as coisas se passaram. Lembro-me de alguns momentos chave. Estávamos sentados rapazes e raparigas, em cima do palco dessa associação a conversar. A trocar ideias, experiências, como eram as coisas lá e cá. E houve uma rapariga que me chamou à atenção, a Maria. Houve uma qualquer tema em que todos deram a sua opinião, e a nossa era absolutamente coincidente. Não saberíamos completar melhor as frases um do outro. Acho que foi aí que as coisas começaram. Pelo menos para mim. E depois fomo-nos descobrindo. Ela era 4 dias mais nova que eu. Tudo era um motivo para me sentir mais e mais atraído... E não havia nada de "físico" naquilo. Apesar de ela ser bonita, não era isso que me chamava. Cada vez mais as conversas faziam sentido, cada vez mais tinha vontade de estar com ela, falar com ela... E chegámos a sexta-feira.
Sim, foram três dias, se calhar nem isso, mas estávamos num ambiente muito fechado. Eu costumava comparar muito aquilo com o Big Brother, pelo menos com o primeiro BB português que foi o que eu vi, e que provavelmente foi o mais genuíno deles todos. Num ambiente assim, em que as pessoas estão 24h sobre 24h umas com as outras, as coisas acontecem de uma maneira diferente, com uma intensidade diferente. Especialmente sabendo que aquilo tem um prazo de fim.
Nós estávamos no Rio de Janeiro, e nessa sexta-feira à noite iríamos viajar para São Paulo, de onde só voltaríamos no domingo. Como falávamos sobre situações amorosas, com toda a gente, ou quando estávamos só os dois, lembro-me que tínhamos falado sobre quem deveria dar o primeiro passo: rapazes ou raparigas. Ou se as raparigas deveriam dar o primeiro passo, no caso de o rapaz não dar. Lembro-me de ela ter dito qualquer coisa como "Acho que os rapazes devem dar o primeiro passo e tento esperar, mas se ele não der, eu serei capaz de dar". Mas eu não quis deixar aquela oportunidade passar e antes de irmos, disse-lhe como me sentia. E foi recíproco.
Foi um fim de semana... "doloroso", onde nem consegui aproveitar bem tudo como queria, tal era a vontade de voltar a estar com ela, de falar com ela. Não precisava de mais. A maioria do pessoal do grupo já se tinha apercebido que havia qualquer coisa e não me deixavam em paz: "estás com saudades dela, não é?" - diziam eles.
Voltamos no domingo, mas apenas na segunda-feira tive oportunidade de voltar a estar com ela. Tanta emoção, tanta coisa para dizer... Ela não queria que aquilo fosse demasiado público por causa dos pais dela, e eu compreendi. Estar numa... relação que tem um prazo de validade (não que todas não tenham, mas o daquela era incrivelmente curto), com alguém que ela tinha conhecido há 5 dias...
Nesse dia (creio que foi nessa segunda-feira) fomos com algumas pessoas ao shopping que havia perto de onde estávamos.
Fomos com mais algumas pessoas, mas rapidamente nos separarmos. Por um lado porque as outras pessoas tinham coisas específicas para comprar, por outro para estarmos mais à vontade. Andámos um bocadinho e ela diz para irmos para o piso de cima. Pareceu-me uma cena estranha, "mas isso não é o parque de estacionamento?" - disse eu. "Não, não te preocupes" - respondeu ela.
Que ingénuo este rapaz. Era mesmo o verdadeiro totó.
Mal chegamos, percebi que era o parque de estacionamento, mas não percebi logo o que se passava, até que ela me puxou para perto de uma parede e nos beijámos.
Tudo parou.
Nunca tinha sentido nada assim. Ficamos lá cerca de 30, 45 minutos talvez, e depois voltamos para a associação.
Todo eu era um misto de emoções. Todo o tempo foi pouco para estar com ela. Não tinha telemóveis ainda, não sabia os dias em que ela poderia vir e estar connosco (comigo, vá) ou não. Muitas vezes nem ela sabia. Passei a maioria dos dias sempre à espera que ela aparecesse. Nuns tive sorte, noutros nem tanto.
Na altura em que lhe contei como me sentia por ela, ela perguntou-me se eu tinha alguém em Portugal. Eu, com medo de não ter a oportunidade de viver aquilo, disse que não. Mais tarde não fui capaz de lhe esconder a verdade e contei-lhe o que se passava. Foi um momento mais difícil na nossa curta relação, mas que ela soube compreender. Afinal, o que é uma relação começada por SMS e onde nem se esteve com a pessoa depois de ela começar? (Sim, foi assim com a Soraia, mas como disse, depois conto o resto.)
Houveram dias realmente muito bons. Eu sentia-me bem e nem queria pensar na possibilidade de ir embora. O fim da viagem foi-se aproximando rapidamente. Houve uma festa, meio que de despedida. Lembro-me de termos chorado. Lembro-me de ter chorado quando disse adeus, de dentro do autocarro que partia para o aeroporto.
Lembro-me de ter chorado ao ler a carta que ela pediu para alguém me entregar no avião.
Lembro-me de ter chorado muitas vezes em casa depois de ter chegado.
Lembro-me de, durante algum tempo ter tido a esperança que ela viesse viver para Portugal (estava dentro dos possíveis planos dela).
Lembro-me também de, às vezes esperar encontrá-la numa qualquer esquina, e descobrir que ela estava a viver cá.
Mantivemos o contacto. No início por carta e e-mail, depois mais por e-mail e outros meios eletrónicos. Umas vezes mais frequentemente, noutras mais espaçadamente.
A paixão foi, ficou a recordação com extremo carinho daquelas três semanas. Passaram-se 14 anos desde que isso aconteceu, por volta desta altura. Somos pessoas completamente diferentes, a vida moldou-nos de maneiras diferentes. Mas nada poderá apagar aquela história.
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