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Hoje em dia não sei se o que eu tenho em mente corresponde à realidade, mas durante muitos anos acreditei que era. E o que eu tinha em mente é que na primeira classe tinha umas cinco raparigas que gostavam de mim (e elas eram dez no máximo).
Independentemente de quantas fossem, apenas duas suscitavam o meu interesse: a Débora e a Iara. As duas queriam "namorar" comigo (aquelas cenas de miúdos de 6 anos), e eu tinha que escolher com qual das duas queria namorar. A escolha não estava fácil, mas a ideia que eu tenho é que até estava um bocadinho inclinado para a Débora.
Mas a Iara tinha um "trunfo". A Iara tinha sete irmãos (sobretudo irmãs), todos mais velhos, e num dia qualquer, duas irmãs dela apareceram na primária. Não sei se era um dia especial ou se era um dia de aulas normal, mas elas já tinham sido alunas daquela escolha e a professora deixou-as estar lá. Provavelmente elas devem ter definido como objetivo para aquele dia fazer-me escolher a Iara. E usaram tudo o que podiam usar contra um miúdo de 6 anos: "ela vai ficar muito triste", "ela não vai falar mais contigo"... e se calhar bastou isso.
E pronto, convenceram-me. A partir desse dia comecei a "namorar" com a Iara. E supostamente namorei durante a primeira e segunda classes. Na terceira classe, num dos primeiros dias ela disse que não queria namorar mais comigo.
O namoro consistia em beijinho na cara no dia dos anos dela (2 de outubro, não me esqueço), e alguns telefonemas para casa nas férias.
Mais tarde arrependi-me da escolha que fiz. A Débora acabou por sempre ser mais minha amiga: por exemplo quando fui operado aos pés, ela foi visitar-me a casa, coisa que a Iara nunca fez. Contudo, acho que o principal motivo que me fez arrepender de não ter escolhido a Débora foi outro.
Lembram-se da história do 5º/6º ano, onde eu ia dar beijinhos na cara atrás do pavilhão e fui repreendido por isso, achando a professora que eram beijos na boca? Nesse post creio que disse que havia um outro casal que dava mesmo beijos na boca... A rapariga desse casal era a Débora. Portanto, durante muito tempo pensei que se a minha escolha na primeira classe tivesse sido outra, a minha vida amorosa poderia ter levado um rumo totalmente diferente e provavelmente mais precoce, que para mim teria sido incrível enquanto adolescente.
Ou se calhar talvez não.. :P
Esta é uma história daquelas curtinhas, mas que também sempre ficou bem gravada na minha memória.
Fui um rapaz que com 5 anos já conseguia ler razoavelmente bem. Sabia bastantes regras e portanto entrei na primária já com algum "avanço" a esse nível.
O episódio terá ocorrido algures entre a primeira ou segunda classe. A tarefa era fazer um desenho, provavelmente relacionado com alguma história que ouvimos ou assim. Não me lembro do motivo. Lembro-me de ter decidido desenhar alguma cena que incluia um sapateiro. Então desenhei a "casa/loja" do sapateiro. Eu sempre fui muito mauzinho a fazer desenhos, mas lá desenhei a casita, e decidi escrever no telhado "SAPATEIRO", para identificar bem aquela construção.
Mas eis que me lembrei: "Nós ainda não aprendemos como se escreve o 'r' em sapateiro! Eu já sei, mas como não aprendemos vou antes escrever SAPATO, para não fazer uma coisa que ainda não aprendemos."
Assim fiz, e fui mostrar o desenho à professora dizendo: "Escrevi SAPATO porque ainda não aprendemos a escrever SAPATEIRO.". E antes que tivesse tempo de explicar que eu sabia como era, e não queria era fazer coisas "à frente" do que tínhamos aprendido, ela respondeu-me "É com 'r' que escreves SAPATEIRO."
Não foi nada de especial, mas senti-me super injustiçado por ela não se ter apercebido que eu sabia. A partir daí decidi que nunca mais ia deixar de fazer aquilo que sabia para não parecer mais inteligente que os outros...
Acho que nunca sonhei de verdade em ser jogador de futebol. Talvez porque sempre soube que não tinha o que era necessário para isso. Não quero com isto dizer que a ideia nunca me atravessou a cabeça, mas na verdade sou apenas alguém que sempre gostou muito do jogo, quer da ótica do adepto, quer da ótica do atleta.
Como é normal com a maioria dos rapazes em Portugal (penso que ainda é uma maioria), durante a escola primária sempre que não chovia e podíamos vir cá para fora no recreio, jogávamos futebol. O facto de não ser particularmente bom nisso nunca me impediu de jogar, ou de participar, vá, nos jogos que se faziam.
E destes jogos tenho duas recordações que ilustram perfeitamente a inexistência da tal carreira futebolística que falo. Não pelo conteúdo dessas recordações, mas por aquilo que essas recordações são. Confusos? Deixem-me explicar.
As duas recordações bem vívidas que tenho dos jogos que fazíamos na escola primária são os dois únicos golos que marquei durante os quatro anos que lá estive. Imaginem quantos dias de escola são quatro anos, quantos jogos de futebol se fizeram e quantas centenas ou milhares de golos foram marcados. E eu marquei dois deles... E consigo lembrar-me dos dois...
Posso dizer que os anos seguintes foram menos maus. Melhorei como jogador e diverti-me mais nos jogos em que participei e hoje em dia sempre que tenho a oportunidade de jogar divirto-me sempre e saio muitas vezes satisfeito com o que faço.
Por isso vos digo que se algo vos faz feliz, não desistam logo só porque não são particularmente bons nisso. Se gostam de cozinhar, podem não vir a ter estrelas Michelin, mas certamente que conseguirão pelo menos mexer uns ovos ou fritar um bife. Se gostam de pintar, podem não vir a ser o próximo Picasso, mas podem sempre aprender algumas técnicas ou dedicar-se à arte abstrata. Há sempre uma maneira de tirar prazer daquilo que vos faz sentir bem, mesmo que não sejam particularmente bons nisso. Às vezes não é preciso muito esforço, outras vezes é preciso um pouco mais, mas vai sempre valer a pena.
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