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Acho que nunca sonhei de verdade em ser jogador de futebol. Talvez porque sempre soube que não tinha o que era necessário para isso. Não quero com isto dizer que a ideia nunca me atravessou a cabeça, mas na verdade sou apenas alguém que sempre gostou muito do jogo, quer da ótica do adepto, quer da ótica do atleta.
Como é normal com a maioria dos rapazes em Portugal (penso que ainda é uma maioria), durante a escola primária sempre que não chovia e podíamos vir cá para fora no recreio, jogávamos futebol. O facto de não ser particularmente bom nisso nunca me impediu de jogar, ou de participar, vá, nos jogos que se faziam.
E destes jogos tenho duas recordações que ilustram perfeitamente a inexistência da tal carreira futebolística que falo. Não pelo conteúdo dessas recordações, mas por aquilo que essas recordações são. Confusos? Deixem-me explicar.
As duas recordações bem vívidas que tenho dos jogos que fazíamos na escola primária são os dois únicos golos que marquei durante os quatro anos que lá estive. Imaginem quantos dias de escola são quatro anos, quantos jogos de futebol se fizeram e quantas centenas ou milhares de golos foram marcados. E eu marquei dois deles... E consigo lembrar-me dos dois...
Posso dizer que os anos seguintes foram menos maus. Melhorei como jogador e diverti-me mais nos jogos em que participei e hoje em dia sempre que tenho a oportunidade de jogar divirto-me sempre e saio muitas vezes satisfeito com o que faço.
Por isso vos digo que se algo vos faz feliz, não desistam logo só porque não são particularmente bons nisso. Se gostam de cozinhar, podem não vir a ter estrelas Michelin, mas certamente que conseguirão pelo menos mexer uns ovos ou fritar um bife. Se gostam de pintar, podem não vir a ser o próximo Picasso, mas podem sempre aprender algumas técnicas ou dedicar-se à arte abstrata. Há sempre uma maneira de tirar prazer daquilo que vos faz sentir bem, mesmo que não sejam particularmente bons nisso. Às vezes não é preciso muito esforço, outras vezes é preciso um pouco mais, mas vai sempre valer a pena.
Para quem está a olhar para este blog, que está a começar, e olhar para a primeira história, pode pensar que isto vai ser um blog mais light, ou tranquilo, de um gajo a despejar problemazinhos e dilemas da vida.
Em parte estão certos. Mas a minha intenção é que vá para além disso. Quero contar histórias que vão ter continuidade de umas para as outras, que podem não estar por ordem cronológica, e que podem ser das coisas mais fofinhas, às coisas mais sexuais e brejeiras... sem censura.
Vou começar por introduzir a história da Isabel (os nomes vão ser sempre fictícios, espero nunca me enganar :P ).
Se não me engano tinha 14 anos, ia fazer 15. Estava no 9º ano. E a minha colega Vera convidou-me e a mais alguns amigos da escola para ir ao cinema com o intuito de festejar o seu aniversário.
Para além desse grupo da escola, a Vera levou também a sua prima Isabel. A Isabel tinha 12 anos, mas tinha corpo de 15, à vontade, e despertou logo em mim um interesse daqueles enormes (na altura não andava apanhado de verdade por ninguém).
Parece que a Isabel também se interessou por mim. Não falámos tanto como isso, mas dava para notar que ela tinha um certo interesse. Para uma rapariga com 12 anos ela era bem espevitada (e a ideia que tenho é que as coisas agora estão bem pior, não com ela, mas com as raparigas de 12 anos de hoje em dia). Durante o filme sentámo-nos juntos e uma das coisas que fiz foi oferecer pipocas, sendo que algumas foram dadas de forma muito fofinha na boca dela.
Eu era um completo tótó nestas coisas. Fui durante grande parte da minha vida. Sempre fui muito docinho e daqueles gajos que ficam sempre na friendzone. Só bastante mais tarde na minha vida vim a ganhar alguma... "malícia". Mas isso fica para outros posts.
Nesse dia fui-me embora com a cabeça na Isabel, mas nem sequer fui capaz de lhe pedir o número de telemóvel. Pelos vistos depois passámos o resto do dia quer um, quer outro, a chatear a Vera para que nos desse o número um do outro. Ela muito se riu.
Tudo que se passou depois de termos o número um do outro mudou muitas coisas da minha adolescência, a maneira como via as coisas, o meu comportamento... E de uma maneira ou de outra ela sempre foi uma presença constante na minha vida, apesar de pessoalmente ter estado com ela provavelmente menos de 10 vezes...
P.S. Bastante tempo mais tarde, talvez anos mais tarde ela disse-me: "Passei aquele filme inteiro à espera que me beijasses...", mas eu era tão tótó.
Devia ter uns seis anos. Na verdade foi na minha festa de aniversário que celebrava esses mesmos seis anos. Vivia numa moradia com quatro pisos e tinha muita gente nessa festa. O meu aniversário era festejado junto com o da minha irmã nessa altura pois éramos pequenos e os nossos aniversários eram a menos de um mês de distância um do outro.
Lembro-me que uma das prendas que recebi foi o Monopólio. Foi das melhores prendas que recebi quando era criança, e foi dada por alguém completamente inesperado: um motorista de transportes públicos que conhecíamos e passou por lá. Não que interesse muito para a história, mas vivíamos quase numa aldeia, pelo que na “carreira” era quase sempre o mesmo motorista que nos levava a casa, e isso fez com que surgisse uma amizade. Hoje que penso nisso, consigo pensar que às vezes as melhores coisas vêm de quem menos se espera e naquele dia isso foi um bocadinho verdade.
Na altura não tive a perceção de quão bom o presente era. Quase todos os outros rapazes apressaram-se a violar o meu Monopólio novo, enquanto eu ficava a olhar, sem saber jogar, embora divertido por todos cobiçarem o meu presente.
Foi um outro presente que mexeu comigo: um carro. Um carrinho, vá. Uma daquelas réplicas em escala 1:18 (aproximadamente), e que no caso acho que era um Ferrari. Hoje em dia acho que não é tão comum, mas na altura (na passagem dos anos 80 para os 90) tenho ideia que era um presente comum.
À noite não consegui adormecer. Provavelmente teve também muito a ver com o frenesim daquele dia, mas eu só conseguia pensar naquele carrinho. Fechava os olhos e via o carrinho. Nada mais existia no meu mundo, apenas o dia seguinte e a oportunidade de brincar com ele.
Nessa noite precisei da minha mãe para adormecer. Não tenho presente se fui dormir para a cama dos meus pais ou se a minha mãe veio para a minha beira até adormecer, mas precisei dela para me acalmar e poder, por fim, descansar…
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